terça-feira, 16 de novembro de 2010

Cinicamente contemporâneo...


Profissão? Ladrão
(baseado em fatos reais)

Numa delegacia. Repórter bem humorado em entrevista com um acusado de furto.



REPÓTER. Boa noite, telespectadores! O entrevistado de hoje é um camarada que tentou se adiantar em R$14,00 e acabou se lascando. Foi o João Durval. (apontando para o acusado) Ô, João Durval, você é muito doido, hein? Não sou eu que sou muito doido não.

ACUSADO. (sorrindo) Por causa de R$14,00...

REPÓRTER. Mas, você já teve várias passagens na cadeia, não teve?

ACUSADO. Tive, mas não dá nada não.

REPÓRTER. Mas e os quatro mandados de prisão? (em tom jocoso) O juiz quer você sentado lá na frente dele explicando...

ACUSADO. Daqui a um mês, eu vou lá conversar com ele, não é?

REPÓRTER. Tem medo não?

ACUSADO. Dá nada não. (pausa) Eu sou ladrão! Eu não gosto de trabalhar não. Eu sou ladrão, então eu não trabalho mais não, o seguinte é esse.

REPÓRTER. Então, você gosta de roubar? (irônico) É sua profissão mesmo?

ACUSADO. (sorrindo) É minha profissão! (pausa) Eu tenho 31 anos.

REPÓRTER. Você parece que tem 51! Tá um caco!

ACUSADO. (sorrindo) Eu to magro demais, né?

REPÓRTER. Mas o que é que você vai esperar da justiça aí?

ACUSADO. Vou esperar que a justiça seja feita, né?

REPÓRTER. E se te liberarem e você fugir, você volta a roubar de novo?

ACUSADO. Mas, é claro. Eu não vou trabalhar. Eu já to com 30 anos, não gosto de trabalhar, não trabalho mais não. Vou roubar de novo, né? (pausa, sorrindo) Se eu não fizer isso, ninguém tem trabalho. Vocês ficam todos desempregados se eu não roubar.

REPÓRTER. Ah, com essa ideologia, então, com essa mentalidade, quer dizer que você gera emprego pra polícia, pro repórter...

ACUSADO. (sorrindo) Pro repórter, pro escrivão, pra delegada, pra juíza e pro promotor, né? Tudo através de mim que sou ladrão...

REPÓRTER. Então, você está contribuindo aí!

ACUSADO. Com certeza! Estou contribuindo para o bem de todos!

REPÓRTER. (sorrindo) Isso é o que você pensa, né? E aquele povo lá que você furta? Esses, você está prejudicando...

ACUSADO. Aqueles lá são mais pecadores do que eu, porque Deus permitiu que eu roubasse eles. Eles são pecadores...

REPÓRTER. Então, você acha que Deus deu uma liberação pra você furtar os outros?

ACUSADO. Sim! Deus permite. Ele sabe de minha necessidade!

REPÓRTER. (sorrindo) Você não acha que é o capeta que tá tentando acabar contigo não?

ACUSADO. (sorrindo) Também, também!

REPÓRTER. Você também se relaciona com o capeta?

ACUSADO. Não, o meu relacionamento é com o senhor Jesus!

REPÓRTER. E você acha que Jesus aprova essas presepadas suas?

ACUSADO. Ele não aprova, mas ele passa o pano, né?

REPÓRTER. (sorrindo) Passa o pano nada! No final, ele tá lá esperando pra te julgar, rapaz.

Silêncio.

REPÓRTER. Você está consciente disso? Que, morrendo, você vai parar no colo do capeta?

Pausa.

ACUSADO. O capeta é mulher ou é homem? Se for capeta mulher, eu vou no colo dela!

VOZ DE FORA. CORTA!


FIM

Nenhum comentário:

Postar um comentário