sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A TRAGÉDIA GREGA

Ésquilo


(breves anotações)


ÉSQUILO

"Com a ajuda dessa psicologia [ Gestalt ], compreendemos a obra de arte não como um produto de processos primários de uma estruturação que calcula e sopesa, mas como o todo que, como configuração (gestalt) enformada, antecede suas partes."

"Quando [ Ésquilo ] veio ao mundo, ainda não haviam desaparecido para Atenas os graves abalos causados pela dissolução e transformação do antigo Estado aristocrático."

"Quem poderia deixar de reconhecer a intervenção dos deuses que mantinham sua mão protetora sobre Atenas, quando, no último instante, uma desavença entre os reis de Esparta fez malograr o ataque do Peloponeso e assim, além da vitória sobre os demais inimigos, tornou possível a obtenção de grandes territórios?"

"o que ameaçava a Grécia, no caso de uma submissão voluntária, não era uma cruel tirania, porque esta o regime persa em geral nunca exerceu contra os povos submetidos, nem era a destruição da vida econômica, já que precisamente esta não era das piores no grande império, mas tratava-se daquela liberdade que foi a única coisa que assegurou a vida espiritual dos gregos nas décadas seguintes."

"Nesse caráter incondicional da decisão com que Atenas, ante o aniquilamento, opõe sua força ao ataque do gigantesco império, na firmeza de vontade, que não recua nem mesmo ante o abandono da cidade pátria, reconhecemos de novo a atitude do homem trágico, tal como ele nas décadas seguintes pisará os palcos áticos, na força original de uma vontade que não conhece o compromisso, quer o aguarde no fim triunfante a preservação ou a inteira destruição. Este paralelo não é casual."

"Não era como se os deuses, como poderes longínquos, houvessem interferido neles, mas sim, segundo se acreditava, os próprios poderes sagrados do solo ateniense haviam participado dos combates."

"Neste solo cresceu aquele profundo saber do entrelaçamento de todo acontecer humano no divino, saber que constitui, como nenhum outro, o elemento fundamental da tragédia de Ésquilo."

"a trilogia de As Danaides contém como primeira peça As Suplicantes."

"A evolução dos grandes não se dá numa progressão regular e constante, e sim aos golpes."

"Os Persas se nos apresenta como a primeira e mais antiga peça subsistente."

"O caminho que vai dos Persas , do ano de 472, à Oréstia de 458, com seus três atores, indica um progresso sem igual no empregos dos meios de expressão dramática.

"na 70a Olimpíada (499/96) Ésquilo entrou na competição com Pratinas e Querilo; isto quer dizer que sua produção dramática se inicia cerca de um quarto de século antes dos Persas. Não temos motivos para pensar que essas primeiras peças fossem elaboradas segundo o modelo dos Persas ou das Suplicantes, mas sim que são essencialmente mais primitivas e em grau muito maior são determinadas pelas canções do côro."

"a hybris: aquela arrogância que ultrapassa os limites do lícito."

"[ Os Persas ] Toda a grandeza de sua concepção religiosa do mundo, reconhecemo-la no fato de haver configurado esse tema, como qualquer outro que tenha tomado da mitologia de seu povo, inteiramente à base das relações com o divino."

"o individual passei inteiramente ao segundo plano e que nenhum dos heróis gregos seja mencionado pelo nome. Quem venceu foi a comunidade e o poder dos deuses que nela vivem."

"A existência do homem se encontra, por parte dos deuses, constantemente ameaçada por meio daquela tentação à hybris, à soberba, à arrogância, que, sob a forma de ofuscação da Ate, sobrevém ao ser humano."

"participação divina e humana que Ésquilo reconhece no infortúnio da culpa humana."

"o trágico desses acontecimentos é efeito do deus e do homem em igual medida."

Trilogia Tebana: Laio, Édipo e Os Sete Contra Tebas; Drama satírico: A Esfinge.

"a idéia sobre a natureza da maldição da linhagem se aprofunda de tal maneira, que ele não a vê como um acaso sem sentido a passar através das gerações, arrastando para a perdição seres inocentes, mas como algo que continuamente se revela em ações culposas a que se segue o infortúnio como castigo."

"a Oréstia nos mostrará a configuração final e completa desse modo de pensar, que, no entanto, já se insinua de forma inconfundível na trilogia tebana."

"Esta dupla motivação da ação, por meio da maldição da linguagem como força objetiva e por meio da vontade no próprio peito, é especificamente esquiliana."

"Se os deuses decretaram, não há como escapar da desgraça."

"O rei é soberano em seu país, mas compartilha a responsabilidade com seu povo; só pode tomar decisões para este, mas nunca sem o seu consetimento. Essa imagem do governante, que quer sua ação conduzida pela vontade de seu povo, corresponde ao ideal de Estado que vimos dominar na Atenas daquela época."

Trilogia: As Suplicantes, Os Egípcios e As Danaides.

"Aqueles elementos que consideramos ação no sentido próprio da palavra distribuem-se de maneira muito desigual no drama e se concentram precisamente em suas últimas partes."

"A preponderância de grandes partes corais na primeira metade do drama salta à vista principalmente em Agamenon, a única peça, além das Suplicantes, que conhecemos com certeza como a primeira peça de uma trilogia."

"A criação literária de Ésquilo encontrou na trilogia a forma apropriada que lhe permite ultrapassar o segmento singular do acontecimento, naquelas conexões maiores nas quais, e somente nelas, se revela todo o seu sentido."

"a primeira peça é, ao mesmo tempo, uma exposição da trilogia inteira, algo semelhante ao que podemos perceber nas Suplicantes em relação à trilogia das Danaides."

Trilogia: Agamenon, Coéforas e Eumênides.

"Agamenon vê-se diante da terrível necessidade de decisão: ou sacrificar a própria filha no altar, ou sacrificar a glória e o objetivo da expedição bélica."

"o homem de Ésquilo naquele imperativo do destino que, no entanto, não o exime do fardo da própria responsabilidade."

"Agindo, o homem cai em culpa, toda culpa encontra sua expiação no sofrimento, e o sofrimento leva o homem à compreensão e ao conhecimento. Este é o caminho do divino através do mundo, tal como Ésquilo o viu."

"O problema se concentrou cada vez com maior clareza, em torno da questão de saber se o conteúdo da peça [ Prometeu Acorrentado ] pode integrar-se na obra de Ésquilo."

"Diante dessa insuficiência do nosso conhecimento, cumpre levar em conta o fato de que o Prometeu Acorrentado aparece também aqui na obra de Ésquilo. Todavia, não podemos sufocar as dúvidas que permanecem ligadas a essa incorporação."

* São citadas outras obras de Ésquilo.

"Os modernos tiveram de esforçar-se muito até conseguir acesso a Ésquilo, já que a palavra e o mundode idéias do poeta não se abrem a uma leve batida na porta."

"Tanto na trilogia das Danaides, quanto na Oréstia deparamos com situações trágicas em que a disposição dos deusesindica o caminho para a solução."

"A tragédia esquiliana pressupõe a fé numa ordem justa e grandiosa do mundo e sem esta ordem resulta inconcebível. O homem trilha seu caminho árduo, e muitas vezes cruel, através da culpa e do sofrimento, mas é o caminho determinado pelo deus, a fim de levá-lo ao conhecimento de sua lei."

A TRAGÉDIA GREGA - albin lesky

A TRAGÉDIA GREGA

(breves anotações)


OS PRECURSORES DOS MESTRES

"Por diversas vezes se pensou que já dentro do próprio canto coral se desenvolveu um diálogo cantado, que mais tarde foi convertido em versos falados, e assim ocasionou a separação entre a parte falada do ator e o canto do côro. Por outro lado, é preciso contar com a possibilidade de que a parte falada do ator não tenha evolvido organicamente a partir do canto do côro, mas que lhe tenha sido aplicada a partir de fontes externas."

"ator e côro se expressam numa linguagem de matiz dialetal diferente; este, no dialeto moderadamente dórico da lírica coral, aquele no iambo ático, que em alguns detalhes revela uma coloração jônica. Ambos são também portadores de diferentes formas de expressão humana."

"No começo da representação, aparecia diante do público um ator - em tempos mais antigos o próprio autor - e, mediante a palavra falada, criava as condições prévias para a audição do que seria cantado."

"se podia, dentro do canto coral, nas transições, intercalar tais explicações e, por meio de novas comunicações, oferecer nova matéria para cantos."


A TRAGÉDIA GREGA - albin lesky

A TRAGÉDIA GREGA




(breves anotações)



OS PRIMÓRDIOS

"também na Grécia existiam aqueles combates rituais simulados."

"O deus, a cujo serviço medrou o drama trágico dos gregos, não pertence ao círculo olímpico dos deuses homéricos."

"A Dioniso, não bastam orações e sacrifícios; o homem não está para com ele na relação, amiúde friamente calculadora, de dar e receber; ele quer o homem inteiro, arrasta-o para o horror do seu culto e, pelo êxtase, eleva-o acima de todas as misérias do mundo."

"o elemento básico da religião dionisíaca é a transformação."

"a transformação é também aquilo de onde, e somente daí, pode surgir a arte dramática, que é algo distinto de uma imitação desenvolvida a partir de um instinto lúdico, e distinto de uma representação mágico-ritual de demônios, arte dramática, que é uma replasmação do vivo."

"o encontro da força interior da religião dionisíaca com processos de natureza política."

"Nessa festa, sob Psístrato, num dos três primeiros anos da Olimpíada de 536/5 -533/2, foi representada pela primeira vez uma tragédia por Téspis, com proteção do Estado. A partir dessa época, fixa-se a ligação entre o drama trágico e as dionisíacas urbanas, e posteriormente assume a forma de que os dias 11-13 de Elafebolion ficam de tal modo dedicados à tragédia, que, em cada certame teatral, é representada uma tetralogia, ou seja, três tragédias e o drama satírico que as acompanha."

"a tragédia, pelo que sabemos de suas representações, sempre permaneceu estreitamente vinculada ao teatro de Dioniso, situado na encosta sul da Acrópole."

"Provavelmente também é dionisíaca a indumentária dos atores."

"Quanto à máscara (...) não há dúvida de que adquiriu sua importância especial para a tragédia, graças ao papel que desempenhou no culto do deus, que era, ele próprio, o deus-máscara."

"o número dos mitos propriamente dionisíacos é tão pequeno, em comparação com outros ciclos de mitos, que a tragédia em gestação nem sequer lograria encontrar neles material sufuciente."

"em Dioniso encontramos, provavelmente, uma das forças vivas que impulsionaram o desenvolvimento do drama trágico como obra de arte, mas, quanto ao conteúdo, a tragédia foi configurada por outro campo da cultura grega, pelo mitos dos heróis."

"Através do mito dos heróis a tragédia adquiriu a seriedade e dignidade de sua postura, diz Aristóteles na Poética, e um significativo desenvolvimento colocou os atrevidos sátiros no fim da tetralogia."
A TRAGÉDIA GREGA - albin lesky

A TRAGÉDIA GREGA

Homero


(breves anotações)


DO PROBLEMA DO TRÁGICO


"No centro dessa criação literária ergue-se sempre o herói radioso e vencedor, aureolado pela glória de suas armas e feitos, mas ele se ergue diante do fundo escuro da morte certa que, também a ele, arrancará das suas alegrias para levá-lo ao nada, ou a um lúgubre mundo de sombras, não melhor do que o nada." [ referindo-se a Homero em suas epopéias ]

"ser característico do jogo épico o considerar a vida como uma cadeia de acontecimentos."

"o que especialmente eleva a Ilíada à categoria de grande obra de arte, o que a levante acima do típico estilo épico e faz que seus autores dêem os primeiros passos em direção à tragédia, não é a formação da cadeia, mas o encadeamento dos acontecimentos, das personagens e das suas motivações."

"Quando os antigos críticos de Homero chamavam-no de pai da tragédia, ou nela incluíam pura e simplesmente sua obra, consideravam principalmente os elementos miméticos da epopéia, sobretudo o diálogo. Mas, como vimos, há um sentido mais profundo..."

"Apesar de tudo o que já foi dito, a epopéia homérica não é mais do que um prelúdio à objetivação do trágico."

"Há algo, sem dúvida, que podemos afirmar com inteira segurança: os gregos criaram a grande arte trágica e, com isso, realizaram uma das maiores façanhas no campo do espírito, mas não desenvolveram nenhuma teoria do trágico, que tentasse ir além da plasmação deste no drama e chegasse a envolver a concepção do acontecer trágico." (...) "perdeu-se em boa parte no helenismo posterior..."

"definição de tragédia que aparece na Poética: 'Tragédia é a imitação de uma ação importante e completa, de certa extensão; num estilo tornado agradável pelo emprego separadao de cada uma de suas formas, segundo as partes; ação apresentada não com a ajuda de uma narrativa, mas por atores, e que, suscitando a compaixão e o terror, tem por efeito obter a purgação dessas emoções."

"Nós também seguimos a moderna investigação no seu conceito de que a catarse desse tipo não está ligada, para Aristóteles, a nenhum efeito moral. Por outro lado, ela lhe parece totalmente inofensiva, e aqui ele entra em contradição clara, ainda que não declarada, com Platão, que baniu rigorosamente a tragédia de sua República ideal, por considerála perigosa à moral dos cidadãos."

"Todo trágico se baseia numa contradição irreconciliável. Tão logo aparece ou se torna possível um acomodação, desaparece o trágico." (Goethe)
A TRAGÉDIA GREGA - albin lesky

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Sobre ARTE X EDUCAÇÃO

O Prédio Teatral Grego




"Atená:

- O conselho que dou a meus cidadãos é que se guardem respeitosamente quer da anarquia quer do despotismo, e que não expulsem completamente o temor para fora da sua cidade. Que mortal guardará a justiça se nada tem a temer? [ Ésquilo em As Eumênides ]

(...)

A deusa de Ésquilo não se dirigia a ninguém mais exceto ao próprio povo da cidade reunido no teatro! O livre jogo na orquestra permitia com facilidade esse endereçar-se aos espectadores, que nos mostra nitidamente o vínculo que unia a obra de arte à comunidade, vínculo que atualmente mal podemos conhecer. Aquela unidade da vida cultural que tão calorosamente desejamos, aqui se fez plena realidade histórica naquela tragédia que, totalmente nascida da polis, se dirigia de novo completamente a ela.

Quando a arte se desvincula do solo primogênito da cultura da comunidade, corre o perigo de se distanciar cada vez mais dessa comunidade.

(...)

A tragédia ática nos mostra muitos traços grandiosos, e um dos maiores é aquele laço indiscutível entre o viver e o pensar de seu povo, laço que a converte numa arte social, no mais nobre sentido da palavra."


albin lesky

em

A TRAGÉDIA GREGA

(editora perspectiva)

sábado, 21 de fevereiro de 2009


"Quem, de três milênios,
Não é capaz de se dar conta
Vive na ignorância, na sombra,
À mercê dos dias, do tempo."

(Johann Wolfgang von Goethe)

domingo, 15 de fevereiro de 2009

As Teorias Pós-Críticas

Diferença e identidade: o currículo multiculturalista.

No mundo contemporâneo, é comum destacar a diversidade das formas culturais.

PARADOXAL: diversidade* convivendo com a homogeneização*? *CULTURAL

CARÁTER AMBÍGUO: instrumento de homogeneização "divulgando" a diversidade cultural. - QUESTÕES CULTURAIS X DE PODER.

*Multuculturalismo: movimento de reinvidicação dos grupos culturais dominados, no interior dos países para terem suas formas culturais reconhecidas e representadas na cultura nacional. - INSTRUMENTO DE LUTA POÍTICA.

-> A VISÃO ANTROPOLÓGICA - de que não se pode estabelecer uma hierarquia entre as culturas humanas, de que todas as culturas são epistologicamente e antropologicamente equivalentes - FUNDAMENTANDO O ATUAL IMPULSO MULTICULTURALISTA --> GRUPOS CULTURAIS IGUALADOS POR SUA COMUM HUMANIDADE, APELA PARA O RESPEITO, A TOLERÂNCIA, A CONVIVÊNCIA PACÍFICA ENTRE AS DIFERENTES CULTURAS.

*Essa visão é questionada por perspectivas mais políticas ou críticas, nas quais as diferenças culturais não podem ser concebidas separadamente de relações de poder.

PERSPECTIVA CRÍTICA DE MULTICULTURALISMO:

a)CONCEPÇÃO PÓS-ESTRUTURALISTA: diferença não é uma característica natural, mas discursivamente produzida. DIFERENÇA É SEMPRE UMA RELAÇÃO, NÃO EXISTE REFERENTE ABSOLUTO.O processo de significação que produz a "diferença" é uma relação social, portanto, se dá em conexão com relações de poder. --> DIFERENTE NEGATIVO / "NÃO-DIFERENTE" POSITIVO. Esta concepção é criticada por excessivo textualismo.

b) CONCEPÇÃO MATERIALISTA: enfatiza os processos institucionais, econômicos estruturais que estariam na base da produção dos processos de discriminação e desigualdade baseados na diferença cultural. Ex.: racismo.

QUAIS AS IMPLICAÇÕES CURRICULARES DESSAS DIFERENTES VISÕES DE MULTICULTURALISMO? Ex.: Estados Unidos, onde o multiculturalismo originou-se como uma questão educacional ou curricular.

PERSPECTIVA LIBERAL OU HUMANISTA: currículo multiculturalista baseado nas idéias de tolerância, respeito e convivência harmoniosa entre as culturas. --> PERSPECTICA CRÍTICA: as diferenças estão sendo constantemente produzidas e reproduzidas através das relações de poder, então estas é que devem ser focalizadas. --> NÃO SE LIMITAR, POIS, A ENSINAR A TOLERÂNCIA E O RESPEITO, MAS ENSINAR A ANALISAR OS PROCESSOS PELOS QUAIS AS DIFERENÇAS SÃO PRODUZIDAS.

Nos EUA, a posição multiculturalista tem sido atacada por grupos conservadores e tradicionalistas, pois representa um ataque aos valores da nacionalidade, da família, da herança cultural comum.

Significaria substituir

OSBRAS CONSIDERADAS COMO DE EXCELÊNCIA DA PRODUÇÃO INTELECTUAL OCIDENTAL por

OBRAS CONSIDERADAS INTELECTUALMENTE INFERIORES PRODUZIDAS POR REPRESENTANTES DA MINORIA.

O multculturalismo fragmentaria uma cultura nacional única e comum, com implicações políticas regressivas.

* Esta cultura nacional única e comum é a cultura do "grupo" dominante.

Da perspectiva multiculturalista crítica, não existe nenhuma posição transcendental, privilegiada, a partir da qual se possam definir certos valores ou instituições como UNIVERSAIS.

"O multiculturalismo nos faz lembrar que a igualdade não pode ser obtida simplesmente através da igualdade de acesso ao currículo hegemônico existente, como nas reinvidicações educacionais progressistas anteriores. A obtenção de igualdade depende de uma modificação substancial do currículo existente."

*Fonte esquecida. hehe.



"Uma estranha loucura está a apossar-se das classes operárias das nações onde reina a civilização capitalista. Esta loucura arrasta atrás de si misérias individuais e sociais que, há dois séculos, atormentam a triste humanidade. Esta loucura consiste no amor ao trabalho, levada ao depauperamento das forças vitais do indivíduo e sua prole.
(...) Na sociedade capitalista, o trabalho está na origem de toda a degenerescência intelectual e de toda a deformação orgânica."


Paul Lafargue


em


O Direito à Preguiça

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

POÉTICA - Aristóteles

Aristóteles


(breves anotações)


"a epopéia, a tragédia (...), todas são, em geral, imitações."

"não há nada de comum entre Homero e Empédocles, a não ser a metrificação; aquele merece o nome de 'poeta', e este, o de 'fisiólogo', mais que o de 'poeta'."

"Poesia há que usam de todos os meios sobreditos; isto é, do ritmo, canto e metro, como a poesia dos ditirambos e dos nomos, a tragédia e a comédia - só com uma diferença: as duas primeiras servem-se justamente dos três meios, e as outras, de cada um por sua vez." - MEIOS DE IMITAÇÃO.

"os imitadores imitam homens que praticam alguma ação, e estes são indivíduos de elevada ou de baixa índole. (...) necessariamente sucederá que os poetas imitam homens melhores, piores ou iguais a nós." - OBJETOS DE IMITAÇÃO.

TRAGÉDIA: imita os homens melhores do que são;
COMÉDIA: imita os homens piores do que são.

"com os mesmos meios pode um poeta imitar os mesmos objetos, quer na forma narrativa (assumindo a personalidade de outros, como o faz Homero, ou na própria pessoa, sem mudar nunca), quer mediante todas as pessoas imitadas, operando e agindo elas mesmas." - MODOS DE IMITAÇÃO.

DRAMAS: imitam agentes.

"o imitador é congênito no homem (...) e os homens se comprazem no imitado." --> Duas causas que geraram a poesia.

"os que ao princípio foram mais naturalmente propensos para tais coisas (a imitação - harmonia e ritmo), pouco a pouco deram origem à poesia, procedendo desde os mais toscos improvisos."

"Homero (...) foi o primeiro que traçou as linhas fundamentais da comédia, dramatizando, não o vitupério, mas o ridículo."

* Comédias e tragédias são mais estimáveis que o jambo e a epopéia.

"Ésquilo foi o primeiro que elevou de um a dois o número de atores, diminuiu a importância do coro e fez do diálogo protagonista. Sófocles introduziu três atores e a cenografia."

"As transformações da comédia estão ocultas, pois que delas não se cuidou desde o início."

"Difere a epopéia da tragédia pelo seu metro único e pela forma narrativa. E também na extensão."

* A epopéia está contida na tragédia, quanto às partes constitutivas.

"Algumas partes da tragédia adotam só o verso, outras também o canto."

"É, pois, a tragédia imitação de uma ação de caráter elevado, completa e de certa extensão, em linguagem ornamentada e com as várias espécies de ornamentos distribuídas pelas diversas partes do drama; imitação que se efetua não por narrativa, mas mediante atores, e que, suscitando o 'terror e a piedade', tem por efeito a purificação dessas emoções."

ESPETÁCULO: uma das partes da tragédia.

- CARÁTER: o que nos faz dizer das personagens que elas têm tal ou tal qualidade.
- PENSAMENTO: tudo quanto digam as personagens para demonstrar o que quer que seja para manifestar sua decisão.

SEIS SÃO AS PARTES DA TRAGÉDIA: mito (a história), caráter (qualidades), elocução (dizer), pensamento (poder dizer), espetáculo (emocionante, poético - diz mais respeito ao cenógrafo) e melopéia (ornamento).

- Dois meios porque se imita.
- Um modo por que se imita.
- Três objetos que se imitam.

"os homens possuem tal ou tal qualidade conformemente ao caráter, mas são bem ou mal-aventurados pelas ações que praticam."

"na tragédia, não agem as personagens para imitar caracteres, mas assumem caracteres para efetuar ações."

"É necessário que os mitos bem compostos não comecem nem terminem ao acaso."

"desde que se possa apreender o conjunto, uma tragédia tanto mais bela será quanto mais extensa."

MITOS: devem imitar as ações que sejam unas e completas, e todos os acontecimentos se devem suceder em conexão tal que, uma vez suprimido ou deslocado um deles, também se confunda ou mude a ordem do todo.

"é muito diverso acontecer uma coisa por causa de outra, ou acontecer meramente depois de outra."

PERIPÉCIA: mutação dos sucessos no contrário.
RECONHECIMENTO: passagem do ignorar ao reconhecer.
CATÁSTROFE: ação perniciosa e dolorosa.

PARTES DA TRAGÉDIA:
-Prólogo: parte completa da tragédia que precede a do coro;
-Episódio: parte completa da tragédia entre dois corais;
-Êxodo: parte completa à qual não sucede canto do coro;
-Entre os corais, o párodo é o primeiro, e o estásimo é um coro desprovido de anapestos* e troquens*. *verificar estes termos

"a piedade tem lugar a respeito do que é infeliz sem o merecer, e o terror, a respeito do nosso semelhante desditoso."

"o homem que não se distingue muito pela virtude e pela justiça, se cai no infortúnio, tal acontece não porque seja vil e malvado, mas por força de algum erro; e esse homem há de ser algum daqueles que gozam de grande reputação e fortuna, como Édipo."

"Querer produzir estas emoções - o terror e a piedade - unicamente pelo espetáculo é processo alheio à arte."

- Quatro pontos dos caracteres: primeiro e mais importante, devem ser bons; segunda qualidade, a conveniência; terceira é a semelhança; e a quarta é a coerência.

"as palavras e os atos de uma personagem de certo caráter devem justificar-se por sua verossimilhança e necessidade."

"De todos os reconhecimentos, melhores são os que derivam da própria intriga (...) [pois] dispensam artifícios, sinais e colares."

"Quanto aos argumentos, quer os que já tenham sido tratados, quer os que ele próprio invente, deve o poeta dispô-los assim em termos gerais e só depois introduzir os episódios e dar-lhes a conveniente extensão."

- os episódios devem ser conforme ao assunto. - nos dramas, curtos.

"o nó é toda a parte da tragédia desde o princípio até aquele lugar onde se dá o passo para a boa ou má fortuna; e o desenlace, a parte que vai do início da mudança até o fim."

A LINGUAGEM DEVE SER: "Palavras estrangeiras, metáforas, ornatos e todos os outros nomes de que falávamos elevam a linguagem acima do vulgar e do uso comum, enquanto os termos correntes lhe conferem a clareza." - SEM EXCESSOS.

"diferem a epopéia e a tragédia pela extensão e pela métrica."

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Evoé!

Dioniso


"Com a vinculação indissolúvel entre a tragédia e o culto de Dioniso pisamos em terreno firme. O deus, a cujo serviço medrou o drama trágico dos gregos, não pertence ao círculo olímpico dos deuses homéricos. Essas figuras luminosas radicam no espírito da epopéia nobre e, em sua beatífica congregação, transmitem a nós, homens da posteridade, a imagem de um mundo contemplado maravilhosamente em seus poderes vivos. Erguem-se à nossa frente como senhores mais nobres e magníficos que os príncipes mortais e, mesmo assim, sua natureza tem muitos traços em comum com estes. Suas vidas correm fáceis no Palácio olímpico e sua vontade apresenta um caráter altamente pessoal. Não assumem a responsabilidade pelo reinado da justiça eterna no universo e tampouco evocam a si o sofrimento dos homens, para resolvê-los em sua divindade. É verdade que não se afastam do ser humano: têm amigos em seu meio, favoritos, a quem ajudam nas horas de perigo e alegram com suas dádivas. Exigem veneração e, em troca, podem ser senhores bem sociáveis, quando lhes apraz. No entanto, quão diferente se apresenta aos homens o deus que, no círculo dos olimpianos, foi sempre um estranho, ainda que os gregos, segundo sabemos agora pelas tabuinhas de escrita Linear B, já o conhecessem na época micênica. A Dioniso, não bastam orações e sacrifícios; o homem não está para com ele na relação, amiúde friamente calculadora, de dar e receber; ele quer o homem inteiro, arrasta-o para o horror de seu culto e, pelo êxtase, eleva-o acima de todas as misérias do mundo. Que ele seja o deus do vinho designa tão-somente uma parte de seu ser, pois toda a incitante vida da natureza, toda a sua força criadora, configurou-se nele. Em seu culto orgiástico, a própria natureza arranca o homem à instabilidade da sua existência, arrasta-o para o interior do mais profundo reino de sua maravilha, a vida, levando-o a conquistá-la e senti-la de forma nova. Por menor que seja essa tentativa de expressar com palavras a natureza do deus, uma coisa, sobretudo, ela pretendeu deixar claro: o elemento básico da religião dionisíaca é a transformação. O homem arrebatado pelo deus, transportado para o seu reino por meio do êxtase, é diferente do que era no mundo quotidiano. Mas a transformação é também aquilo de onde, e somente daí, pode surgir a arte dramática, que é algo distinto de uma imitação desenvolvida a partir de um instinto lúdico, e distinto de uma representação mágico-ritual de demônios, arte dramática que é uma replasmação do vivo."
-
LESKY, Albin. A Tragédia Grega. São Paulo: Editora Perspectiva, 1971. p. 61. Debates: Teatro.