sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Fé cênica,

fé cínica,

derivados

&

afins.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

sms, lágrimas, the end.

.acordou alegre
pela noite passada.

ao vê-lo a caminho do
banho, sorriu.
...
"que horas são?",
pensou quando percebeu
o celular jogado
do companheiro.

sms,
lágrimas,
the end.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

- E, envergonhado, pediu: faz-me rir.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

- Cuidado com teus planos, pois, se forem inclinados, podem querer privatizá-los.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

PROUST E OS SIGNOS, Gilles Deleuze

PARTE I:


O que é “a busca” na obra? “a busca, não é simplesmente um esforço de recor­dação, uma exploração da memória: a palavra deve ser tomada em sentido preciso, como na expressão "busca da verdade”.” “A Recherche se apresenta como a exploração dos diferentes mundos de signos, que se organizam em círculos e se cruzam em certos pontos.”
O que é “o tempo perdido” na obra? “não é apenas o tempo que passa, al­terando os seres e anulando o que passou; é também o tempo que se perde (por que, ao invés de trabalharmos e sermos artis­tas, perdemos tempo na vida mundana, nos amores?).”
O que é “o tempo redescoberto” na obra? “um tempo que redescobrimos no âmago do tempo perdido e que nos revela a imagem da eter­nidade; mas é também um tempo original absoluto, verdadeira eternidade que se afirma na arte.” [...] “a obra de arte é o único meio de redescobrir o tempo perdido."
O que é “aprender” na obra? “Aprender diz respeito essencialmente aos signos.” [...] “Aprender é, de início, considerar uma matéria, um obje­to, um ser, como se emitissem signos a serem decifrados, interpretados.” [...] “A obra de Proust é baseada não na exposição da me­mória, mas no aprendizado dos signos.”
Qual o resultado essencial do aprendizado? “há verdades a serem descobertas [no] tempo que se perde.”
O que são “signos” na obra? “Os signos são especí­ficos e constituem a matéria desse ou daquele mundo.”
1º mundo: signos mundanos. “a tarefa do aprendiz é compreender por que alguém é "recebido" em determinado mundo e por que alguém deixa de sê-lo; a que signos obedecem esses mundos e quem são seus le­gisladores e seus papas.” [...] “Não se pensa, não se age, mas emitem-se signos.” [...] “O signo mundano não remete a alguma coisa; ele a "substitui", pretende valer por seu sentido.” [...] “O aprendizado seria imperfeito e até mesmo impossível se não passasse por eles.”
2º mundo: signos do amor. “Apaixo­nar-se é individualizar alguém pelos signos que traz consigo ou emite. É tornar-se sensível a esses signos, aprendê-los.” [...] “Não podemos in­terpretar os signos de um ser amado sem desembocar em mun­dos que se formaram sem nós, que se formaram com outras pessoas, onde não somos, de início, senão um objeto como os outros.” [...] “A contradi­ção do amor consiste nisto: os meios de que dispomos para preservar-nos do ciúme são os mesmos que desenvolvem esse ciúme, dando-lhe uma espécie de autonomia, de independên­cia, com relação ao nosso amor.” [...] “os signos amorosos são signos mentiroros que não podem dirigir-se a nós senão escondendo o que exprimem, isto é, a ori­gem dos mundos desconhecidos, das ações e dos pensamentos desconhecidos que lhes dão sentido.” [...] “Era uma terra incógnita terrível a que eu acabava de aterrar, uma fase nova de sofrimentos insuspeitados que se abria. E, no entanto, esse dilúvio da realidade que nos submer­ge, se é enorme a par de nossas tímidas e ínfimas suposições, era por elas pressentido.” [...] “O mundo do amor vai dos signos reveladores da mentira aos signos ocultos de Sodoma e Gomorra.”
3º mundo: as qualidades sensíveis ou impressões. “estes signos já se distinguem dos precedentes por seu efeito imediato.” [...] “São signos verídicos, que imediatamente nos dão uma sensação de alegria incomum, signos plenos, afirmativos e alegres.” [...] “o sentido material não é nada sem uma essência ideal que ele encarna.”
4º mundo: signos da arte. “os signos da arte são os únicos imateriais.” E capazes de “revelar” a essência de cada um (no caso, do sujeito-artista).
Concluindo. “os signos mundanos, princi­palmente os signos mundanos, mas também os signos do amor e mesmo os signos sensíveis, são signos de um tempo "perdido": são os signos de um tempo que se perde. Pois não é muito sensato freqüentar a sociedade, apaixonar-se por mulheres medíocres, nem mesmo despender tantos esforços de imaginação diante de um pilriteiro, quando melhor seria conviver com pessoas pro­fundas, e, sobretudo, trabalhar.”
Sobre a verdade. “Na verdade, “Em Busca do Tempo Perdido” é uma busca da verdade.” [...] “O ciumento sente uma pequena alegria quando consegue decifrar uma men­tira do amado, como um intérprete que consegue traduzir um trecho complicado, mesmo quando a tradução lhe revela um fato pessoalmente desagradável e doloroso.” [...] “Proust não acredita que o homem, nem mesmo um espírito supostamente puro, tenha na­turalmente um desejo do verdadeiro, uma vontade de verdade. Nós só procuramos a verdade quando estamos determinados a fazê-lo em função de uma situação concreta, quando sofremos uma espécie de violência que nos leva a essa busca.” [...] “Há sempre a violência de um signo que nos força a procurar, que nos rouba a paz.” [...] “Falta necessidade às verdades intelectuais.”
Crenças impedem o aprendizado. “1ª: [objetivismo é] atribuir ao objeto os signos de que é portador.” [...] “Pensamos que o próprio ‘objeto’ traz o segredo do signo que emite.” [...] “Relacionar um signo ao objeto que o emite, atribuir ao objeto o benefício do signo, é de início a dire­ção natural da percepção ou da representação. Mas é também a direção da memória voluntária, que se lembra das coisas e não dos signos. É, ainda, a direção do prazer e da atividade prática, que se baseiam na posse das coisas ou na consumação dos obje­tos. E, de outra forma, é a tendência da inteligência.”; 2ª: “o herói se esforça para encontrar uma compensação subjetiva à decepção com relação ao objeto.”
Sobre a essência. “é uma diferença, a Diferença última e absoluta.” [...] “Não é uma diferença empírica, sempre extrínseca, entre duas coisas ou dois objetos. Proust nos dá uma aproximação da essência quando diz que ela é alguma coisa em um sujeito, como a presença de uma qualidade última no âmago de um sujeito: diferença interna, “diferença qualitativa decorrente da maneira pela qual encaramos o mundo, diferença que, sem a arte, seria o eterno segredo de cada um de nós’.” [...] “Qualidade desconhecida de um mundo único." [...] “A essência não é apenas individual, é indivi­dualizante."
Memória voluntária. “A memória voluntária vai de um presente atual a um presente que ‘foi’, isto é, a alguma coisa que foi presente e não o é mais.” [...] “essa memória não se apodera diretamente do passado: ela o recompõe com os presentes.”
Memória involuntária. “interioriza o contexto, torna o antigo contexto inseparável da sensação presente.” [...] “o essencial na memória involuntária não é a semelhança, nem mesmo a identidade, que são apenas condições; o essencial é a diferença interiorizada, tornada imanente.” [...] “A lembrança involuntária retém os dois poderes: a diferença no antigo momento e a repetição no atual.”
A matéria em que o signo é inscrito. “Os signos mundanos são mais materiais por evoluírem no vazio. Os signos amorosos são inseparáveis da força de um rosto, da textura de uma pele, da forma e do colorido de uma face: coisas que só se espiritualizam quando a criatura amada dorme. Os signos sensíveis também são qualidades materiais, sobretudo os aromas e sabores. Somente na Arte é que o signo se torna imaterial, ao mesmo tempo que seu sentido se torna espiritual.”


Outras. “em dado momento o herói não co­nhece ainda determinado fato que virá a descobrir muito mais tarde, quando se desfizer da ilusão em que vivia. Daí o movi­mento de decepções e revelações que dá ritmo a toda a busca.”
O importante é que o herói não sabe certas coisas no início, aprende-as progressivamente e tem a revelação final. Inevitavel­mente, ele sofre decepções: "acreditava", tinha ilusões; o mundo vacila na corrente do aprendizado.”
“Em seus primeiros amores, ele faz o "objeto" se beneficiar de tudo o que ele próprio sente: o que lhe parece único em determinada pessoa parece-lhe também pertencer a essa pessoa. Tanto que os primeiros amores são orientados para a confissão, que é justamente a forma amorosa de homenagem ao objeto (devolver ao amado o que se acredita lhe pertencer).”
“O que o herói da Recherche não sabe no início da aprendizagem? Não sabe ‘que a verdade não tem necessidade de ser dita para ser manifestada, e que podemos talvez colhê-la mais seguramente sem esperar pelas palavras e até mesmo sem levá-las em conta, em mil signos exteriores’.”
“os acasos da escolha que lhe ensinam que as razões de amar nunca se encontram naquele que se ama, mas remetem a fantasmas, a Terceiros, a Temas que nele se incorporam por intermédio de complexas leis. Ao mesmo tempo, ele aprende que a confissão não é o essencial do amor e que não é necessário, nem desejável, confessar: estaremos perdidos, toda a nossa liberdade estará perdida.”
A decepção é um momento fundamental da busca ou do aprendizado: em cada campo de signos ficamos decepcionados quando o objeto não nos revela o segredo que esperávamos.”
Após a decepção fruto do objetivismo, vem a compensação subjetiva.
“Ao invés de nos conduzir a uma justa interpretação da arte, a compensação subjetiva acaba por fazer da própria obra de arte um simples elo na cadeia de nossas associações de idéias.”
Não se deve ver na arte um meio mais profundo de explorar a memória involuntária; deve-se ver na memória involuntária uma etapa, e não a mais importante, do aprendizado da arte.”
Uma diferença original preside nossos amores.”
A passagem de um amor a outro encontra sua lei no Esqueci­mento e não na memória; na Sensibilidade e não na imagina­ção.”
“Os signos do amor são acompa­nhados de sofrimento porque implicam sempre uma mentira do amado, como uma ambigüidade fundamental de que nosso ciú­me se aproveita e se nutre. Então, o sofrimento por que passa nossa senbilidade força nossa inteligência a procurar o sentido do signo e a essência que nele se encarna.”
Cada sofrimento é particular na medida em que é sentido, na medida em que é provocado por determinada criatura, em determinado amor. Mas, porque esses sofrimentos se reproduzem e se entrelaçam, a inteligência extrai deles algu­ma coisa de geral, que também é alegria.”
“Extraímos de nossas tristezas particulares uma Idéia geral; é que a Idéia era primeira, já se encontrava lá.”
“No caso dos signos mundanos, perdemos tempo porque esses signos são vazios e reaparecem, intactos ou idênticos, no final de seu de­senvolvimento.”
“O tempo do amor é um tempo perdido, porque o signo só se desenvolve na medida em que desaparece o eu que correspondia ao seu sentido.”
“Dos signos mundanos aos signos sensíveis, a relação do signo com seu sentido é cada vez mais íntima. [...]Mas apenas no nível mais profundo, no nível da arte, é que a Essência é revelada.”
“Quando atingimos a revelação da arte, aprendemos que a essência já se encontrava nos níveis mais bai­xos. Era ela que, em cada caso, determinava a relação do signo com seu sentido.”
“Os leitmotive da Recherche são: eu ainda não sabia; eu compreenderia mais tarde; quando deixava de aprender, eu não me interessava mais.”
“a busca da verdade é a aventura própria do involuntário.”
“O que nos força a pensar é o signo. O signo é o objeto de um encontro; mas é precisamente a contingência do encontro que garante a necessidade daquilo que ele faz pensar.”

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

...

"Para privilegiar um certo didatismo na nossa compreensão da “Hecceidades”, vamos adotar um frágil procedimento. Suponhamos que existam dois tipo de olhar: o olhar que ver as determinações e as formas e o olhar que ver o jogo das hecceidades. O olhar da forma é aquele que se investe nos objetos, nos sujeitos determinados e tudo ele representa num jogo de analogias. Vamos tomar como exemplo nosso amigo Yuri Tripodi. Olha-se para Tripodi e se acredita que a beleza é dele, que a sensibilidade é dele, que a generosidade é dele. Neste sentido o olhar fixo dirá: eis um cara insubstituível! Como se a beleza não fosse a expressão de forças da vida, como se ela também não correspondesse a critérios que estabelece o que é belo numa determinada época e sociedade. Como se Tripodi, estivesse condenado a ser sensível e generoso e por vezes não fosse o avesso. Ao contrário, hecceidade é um individuação sem sujeito. O olhar por hecceidade capta as intensidades, as camadas, as sigularidades que se expressam na matéria e a move. O Tripodi apaixonado, o Tripodi raivoso, o Tripodi infantil, o Tripodi lobo, o Tripodi belo, o Tripodi bicho, o Tripodi tudo, o Tripodi a depender das singularidades que se atualizam nele."


[ ESPERANDO GODOT VI ]

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

...

"Querida,

sobre o amor, eu li e estou de acordo com a concepção de Proust. Vale a pena tirar uns meses para ler "Em busca do tempo perdido". Segundo o narrador de Proust, o amor começa com um processo de individualização pelos signos. O sujeito que ama reconhece, na pessoa amada, signos e a qualifica com base nos signos reconhecidos. Neste momento, acredita que o que faz ela ter aquele sentimento é a pessoa amada, mas o jovem Marcel terá uma série de desilusões amorosas e continuará amando outras mulheres (Gilbert, Albertina etc). Perceberá, em algum dos volumes, que o amor não era provocado por aquelas mulheres, mas por uma expressão do desejo, de forças que nos conduz a aumentar a nossa potência, se aprendemos a nos associar com essas forças. Todavia, o livro de Proust é muito mais grandioso, pois ele vai em busca dos signos da arte, da expressão do tempo puro. Signos/essências da arte que, segundo ele, nos faz perder o medo da morte. 
Só escrevi essas linhas para não enviar o email em branco. Acredito que elas pouco ajudem. Você mesma tem que fazer seus mergulhos. Vale a pena, antes, ler o livro "Proust e os Signos" de Gilles Deleuze (formidável).
Você já leu "O jardim de Veredas que se bifurcam"? É um conto pequeno.

Um abraço, querida."


[ ESPERANDO GODOT V ]

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sobre Hecceidades

"É muito frágil o que eu vou te falar, pois é preciso um mergulho maior nos ensinamentos de Deleuze para compreender esse conceito. Hecceidade é um ponto intenso, fluxo de sensações. Podemos tomar como exemplo nós mesmos, isto é, ao contrário de pensar que temos um único estado de ser, temos mil, a depender dos estados afetivos no qual mergulhamos. Isso não tem nada de subjetivo, nada de psicológico. A hecceidade varia conforme os afetos e os perceptos que vamos compondo.

Isso é quase nada perto da beleza desse conceito."




[ ESPERANDO GODOT IV ]

Sobre a Arte

"Cara Fada,
suponho que exista um mal entendido muito grande em relação à arte, mesmo entre os artistas. Alguns acreditam que a arte é um adorno, um recurso estético para enfeitar a vida. Mas, de maneira nenhuma, a prática dos grandes artistas se reduz a isso, é muito pouco. Ao contrário, a arte nos apresenta novas possibilidades de vida, novas formas de composição com a vida. A arte trapaceia a mesquinhez da nossa percepção interessada e nos faz criar e viver novos mundos. Como disse Proust, na entrevista concedida ao Jornal Le Temps: 'O prazer que nos dá um artista é de nos fazer conhecer um universo a mais.' Uma maioria pensa que Cezanne dedicou a vida a pintar maçãs e paisagens, mas o próprio Cezanne, em suas cartas, desfaz o mal entendido, dizendo: 'Jamais minha prática se voltou a pintar maçãs. Todo meu esforço foi pintar as forças que se expressam nesses corpos. É por isso que digo que minha prática-arte se põe a fazer visível o invisível. "

Pois, então, querida amiga, o artista é a ponto entre o homem e o super-homem, entre o organismo e o corpo sem orgãos, entre o teatro fixo e o teatro mágico. É o artista o revolucionário que mergulha no caos e, dentro dele, cria novos mundos.

 
Abraço, querida."
 
 
[ ESPERANDO GODOT III ]

Quem és?

"Querida Fada do Botequim,
 
'Quem você é?'. Essa é a pergunta que atravessou os séculos. 'Descubra', 'deixe se povoar pela sua preciosa solidão', 'ninguém te salvará'! Essas são as frases que parecem se insinuar nas cartas de Rilke ao jovem poeta. Não é diferente de Hermann Hesse quando nos apresenta 'O Lobo da Estepe'.

Querida amiga, quando diluimos o lobo e descobrimos as infinitas mônadas, já não podemos falar o que somos. Mas, para satisfazer o uso comum da linguagem gregária, deixo que me chamem de Godot, Mônadas, Corpo sem Orgãos. Mas, os nomes pouco importam, não é? Eu gosto mesmo é dos "Jardins de Veredas que se bifurcam", é nele que Borges encontra com a eternidade.
 
Infelizmente, tenho limites para escrever e devo respeitá-los."
 
 
[ ESPERANDO GODOT II ]

Expressar as mônadas.

"QUERIDA AMIGA,
HOJE A PARTIR DAS QUATRO NO TEATRO MÁGICO
SÓ PARA LOUCOS
ENTRADA AO PREÇO DA RAZÃO
PARA OS RAROS SOMENTE."



[ ESPERANDO GODOT I ]

terça-feira, 14 de junho de 2011

Deleuze: a arte e a filosofia.

curso com Roberto Machado.

Junho 2011.

1º dia, anotações.


INTRODUÇÃO

Para Deleuze, a filosofia não é uma reflexão sobre; não está acima (tendência moderna, final do século XVIII).

A filosofia é produção, criação, e não legitimação, do Pensamento.

Todos os saberes (filosofia, arte, ciência) criam Pensamento, mas há uma distinção na maneira de criar.

A ciência cria funções, a arte cria sensações e a filosofia cria conceitos.

Para Deleuze, o filósofo não desvela (algo que está a ser descoberto, digamos), mas cria, inventa, fazendo nascer o que ainda não existia.


Como os conceitos são criados na filosofia de Deleuze?

01) a partir do Pensamento de outros filósofos; usando alguns filósofos para privilegiar espaços (nos quais o seu Pensamento também está inserido); espaço SINGULAR.

02) a partir dos conceitos suscitados por outros saberes.

Deleuze constrói sua filosofia a partir dessas "fontes", pois acredita ser necessário estabelecer conexões, alianças, agenciamentos.

Deleuze não privilegia a linearidade da história, como Hegel, mas privilegia as conexões geográficas (espaciais).

A idéia é contrapor o PENSAMENTO SEM IMAGEM (diferença) à IMAGEM DO PENSAMENTO (representação).

A representação reduz o Pensamento à identidade; espaço dogmático; metafísico; racional; transcendente; quer descobrir; valores absolutos e universais.

O espaço singular, ou da diferença, é pluralista; ontológico; trágico; imanente; quer criar.

* Perspectiva não é relativismo.

Para Deleuze, a moral é sistema de julgamento. A moral se funda em valores transcendentes (bem e mal, valores metafísicos). Deleuze é um crítico da moral.

A ética avalia sentimentos, leva em consideração os modos de ser das forças vitais que definem a vontade de potência do homem.


Deleuze, ao utilizar o Pensamento de Foucault, por exemplo, não pretende encontrar a identidade deste Pensamento com o seu e sim o seu duplo com o máximo de diferenças. * É diferente, mas não é outro.

Teatro filosófico: Deleuze traz os filósofos, escreve suas falas e as dirige. É o Kafka, é o Foucault DE DELEUZE (procedimento de colagem).

Deleuze não pode ser considerado um historiador da filosofia: repetir o texto não para encontrar sua identidade, mas para afirmar a sua diferença.

Deleuze: a arte e a filosofia.

curso com Roberto Machado.

Junho 2011.

2º dia, anotações.


"A LITERATURA"

Deleuze utiliza Pensadores que quiseram criar o Pensamento da diferença.

* Acordo discordante, produzido pela discórdia.

* O particular está submetido ao geral.

* O original é uma potente figura solitária; revela o vazio das formas; a mediocridade das criaturas particulares; é alguém que tem o Pensamento sem imagem, fora da representação.

Cita determinado personagem cuja fala é somente "preferiria não..." - uma "anomalia", apesar de ser escrito normalmente; inventa uma nova língua dentro da própria língua materna; o personagem deixa indeterminado aquilo que rejeita (não aceita nem recusa).

O BOM LITERATO DESAFIA A LÓGICA E A PSICOLOGIA.

* Só é interessante dizer aquilo que não pode ser dito.

* DEVASTAR AS REFERÊNCIAS.

A literatura tem uma relação com o DE FORA da linguagem.

"Eu nunca vi o sertão, ou seja, nunca tive a percepção do sertão, mas, lendo Guimarães Rosa, tive o percepto do sertão."

O clichê é o particular subordinado ao geral.


DEVIR = LINHA DE FUGA = DESTERRITORIALIZAÇÃO.

O devir é contrário à imitação; é uma crítica ao modelo; se desterritorializar em relação ao modelo; escapar da forma dominante.

Deleuze não privilegia a forma e sim a força.

O devir se passa entre. Devir animal não é ser animal e sim assimilar a intensidade deste.

Só existe devir em relação a algo minoritário.

O devir diz respeito ao encontro de heterogêneos; mantém-se a tensão desse encontro.

Alguns personagens trágicos possuem um devir potente demais (para eles) que os aniquila. Porém, DELEUZE NÃO É UM FILÓSOFO DO ANIQUILAMENTO. Há no devir um perigo de desmoronamento.

Segundo Spinoza, "nada que ultrapassa a nossa capacidade de ser afetado é bom."

Por isso, a questão é: como um devir pode ser vivido? Elogio da prudência.

"O artista é alguém que analisa a doença do homem moderno e avalia a sua possibilidade de cura."



 O artista é um clínico e não um doente (como costuma ser visto).

Joyce leva sua filha, psicótica, ao consultório de Jung. Joyce mostra a Jung os textos que sua filha escreve, elogiando-os e comparando-os aos seus próprios, pois acha-os parecidos. Jung chama a atenção de Joyce para a seguinte questão: na esfera onde você flutua, sua filha afunda.

O louco, portanto, é aquele que perdeu os procedimentos (diferentemente do artista).

Deleuze: a arte e a filosofia.

curso com Roberto Machado.

Junho 2011.

3º dia, anotações.

"A PINTURA"

1ª hipótese - apesar da variação do estilo, há três elementos invariantes nas obras de Bacon:

a) a figura: como para Bacon é possível evitar o caráter representativo da figura? Bacon desprevilegia a forma. A figura é não figurativa. Bacon está ENTRE o figurativo e o abstrato. Quando há mais de uma figura não se deve contar nenhuma história criando "lógica" entre elas. Duas figuras formam um só fato. A figura de Bacon é um corpo experimentando uma sensação. O corpo é formado por osso e carne em tensão. A figura, se é corpo, não tem rosto (*Rostidade zero?). Devir animal: não tem rosto, mas cabeça. O processo de rostificação, segundo Deleuze, é político. A figura de Bacon não tem rosto, pois quer ser assignificante, assubjetiva.

- DEVIR: desterritorialização conjulgada; DEVIR ANIMAL: indiscernibilidade entre o homem e o animal (entre). Aumento de intensidade.

"Não há nada mais inútil que um orgão." (Artaud)

Deleuze é um crítico da organização / organismo.

"O corpo nunca é um organismo. Os organismos são os maiores inimigos do corpo." (Artaud)

Deleuze é o filósofo das torções, mas isso é justificado pela sua própria teoria.

- CORPO SEM ORGÃOS: vida inorgânica; não ter uma organização. A forma sendo questionada em nome da força. Corpo pleno percorrido por um fluxo de intensidade.

Bacon é um pintor que desfaz o organismo para pintar um corpo sem orgãos.


b) o contorno - delimita onde está a figura; o lugar da relação entre a figura e a grande superfície plana.


c) grande superfície plana.

Deleuze: a arte e a filosofia.

curso com Roberto Machado.

Junho 2011.

4º dia, anotações.


"O CINEMA"

Os cineastas pensam através de imagens.

O cinema não é língua, nem linguagem (Pensamento contrário à semântica).

Deleuze pensa o cinema a partir do pensamento de Bergson (livro: Matéria e Memória).


Deleuze fala em dois tipos de imagem:
01) Imagem Movimento - Cinema Clássico; representação indireta do tempo; cinema de ação; encadeamento sensório motor entre as imagens, agindo e reagindo umas sobre as outras construindo um organismo; conexão lógica; conta-se uma "historinha".

02) Imagem Tempo - Cinema Moderno; apresentação direta do tempo; questionamento do encadeamento; a percepção não se prolonga mais em ação, mas se relaciona com o Pensamento. Este cinema possui cinco características: a) situações dispersíveis (várias), situações relativamente independentes; b) o encadeamento entre as imagens é quase inexistente; c) as ações são substituídas por personagens que erram (conceito de errância); d) toma consciência do clichê, denunciando o lugar comum; e) denuncia um complô do poder que é necessário para que a sociedade permaneça como está (isto é a condição para um novo tipo de imagem).

Este cinema (o de imagem tempo) apresenta situações óticas e sonoras puras; cinema visionário; proporciona um conhecimento (e não um reconhecimento) da realidade.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Overdose = Suicídio ?

Nunca vi ninguém que, ao cheirar cocaína pela primeira vez, morreu de overdose. Cada um sabe o que deseja para si e, ao desejo, nada falta. Paremos de afirmar que a vida é coisa mais importante do mundo, uma preciosidade e que querer não-viver é absurdo. A vontade de deixar de existir é legítima e haja coragem para consumá-la. E parem...os também com essa história de que a pessoa que se matou está descansando em paz em outro lugar, pois quem se mata não quer descansar, quer, nem que por um instante, morrer. E que desamor para com essa pessoa desejando-lhe que esteja onde quer que seja se ela, na verdade, não gostaria mais de estar em lugar algum. Quem quer descansar vai prum spar, vai pra Europa, pra uma praia paradisíaca ou, na falta de dinheiro, pra itapuã dia de domingo. Uma pessoa que está acostumada a tomar remédio controlado ou a usar cocaína ou qualquer outra substância que, em excesso e misturada, pode levar a morte, e excede no uso daquilo, repito, que já conhece, não quer "aliviar as dores da vida". Quem quer aliviar as dores da vida faz um escândalo; desconta o ódio no caixa do supermercado; toma um rivotril/lexotan etc. e dorme; chora copiosamente para, no instante seguinte, descobrir que a vida é boa; bebe até cair; dá um murro na cara de quem, naquele instante, odeia. Quem quer aliviar as dores da vida alivia (ou não), mas não morre. Porque, repito, nunca vi alguém que, ao cheirar cocaína pela primeira vez, morreu de overdose. E paremos de desconfiar da hipótese de que alguém muito feliz e sorridente, muito talentoso, muito bonito, muito rico, muito bem sucedido (que termo escroto, hein) etc. se suicidou. Como deve se vestir, comportar, falar, olhar, agir, socialmente, um suicida? Deixemos de ingenuidade. Cada um sabe a altura do prédio que pula; nem que por um instante.
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Trecho de poema de Fernando Pessoa pra ilustrar:

"O mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum.

[...]


É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas."


...............

sexta-feira, 6 de maio de 2011

...um pedregulho

p       e       r       d       i       d       o

na estepe...









(um pedregulho é diferente de uma rocha)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Gilles Deleuze - "I" de idéia.




"I" de idéia. O que é ter uma idéia?

Demonstração com o cinema e Vicent Minnelli, o cavaleiro dos sonhos.


A idéia no sentido em que a usamos, pois não se trata mais de Platão, atravessa todas as atividades criadoras. Criar é ter uma idéia. É muito difícil ter uma idéia. Há pessoas extremamente interessantes que passaram a vida inteira sem ter uma idéia. Pode-se ter uma idéia em qualquer área. Não sei onde não se deve ter idéias. Mas é raro ter uma idéia. Não acontece todos os dias. Um pintor tem tantas idéias quanto um filósofo, mas não são o mesmo tipo de idéias. Pensando nas diferentes atividades humanas, seria bom saber: sob que forma se apresenta uma idéia em determinados casos? Em filosofia, acabamos de ver isso. A idéia em filosofia se apresente na forma de conceitos. Há uma criação de conceitos e não uma descoberta. Conceitos não se descobrem, são criados. Há tanta criação em uma filosofia quanto em um quadro ou uma obra musical. Fico impressionado com os diretores de cinema. Há muitos diretores que nunca tiveram uma idéia. As idéias são uma obsessão: elas vão e voltam, se afastam, tomam formas diversas e, através destas formas variadas, elas são reconhecíveis. Para dar um exemplo muito simples, penso em um diretor como Vicent Minnelli. A obra dele não cobre tudo, mas peguei esse exemplo por ser mais fácil. Parece-me que ele é uma pessoa que se pergunta o que quer dizer "as pessoas sonham". Dizer que as pessoas sonham é uma banalidade. As pessoas sonham, sim, mas Minneli faz uma pergunta muito estranha que lhe é muito particular: o que quer dizer estar preso no sonho de alguém? Passa pela tragédia, pela comédia, pelo abominável etc.O que quer dizer estar preso no sonho de uma menina? Podem aparecer coisas terríveis por ser prisioneiro do sonho de alguém. Pode ser um horror. Às vezes, Minnelli nos traz um sonho: o que é estar preso no pesadelo da guerra? E o resultado foi admirável: "Os Cavaleiros do Apocalipse". E ele não vê a guerra como guerra, do contrário, não seria Minnelli e, sim, como um grande pesadelo. O que quer dizer estar preso num pesadelo? Estar preso no sonho de uma menina resulta nos famosos musicais, em Fred Astaire ou Gene Kelly, não sei ao certo, escapam das tigresas e panteras negras. Isso é estar no sonho de alguém. É uma coisa gigantesca. Eu diria que isso é uma idéia. No entanto, não é um conceito. Se Minnelli trabalhasse com conceitos, ele faria filosofia e não cinema. Eu diria que é preciso distinguir três dimensões; três coisas tão poderosas que se misturam o tempo todo. E este é o meu trabalho futuro. É isso que eu gostaria de fazer e tentar entender melhor isto. Há os conceitos que são a invenção da filosofia e há o que podemos chamar de "perceptos". Os "perceptos" fazem parte do mundo da arte. O que são os perceptos? O artista é uma pessoa que cria perceptos. Por que usar essa palavra estranha em vez de percepção. Porque perceptos não são percepções. O que é que busca um homem de letras, um escritor ou um romancista? Acho que ele quer poder construir conjuntos de percepções e sensações que vão além daqueles que as sentem. O percepto é isso. É um conjunto de sensações e percepções que vai além daquele que a sente. Vou dar alguns exemplos. Há páginas de Tolstoi que descrevem o que um pintor mal saberia descrever. Ou páginas de Tchekov que, de outra maneira, descrevem o calor da estepe. Há um grande complexo de sensações, pois há sensasções visuais, auditivas e quase gustativas. Alguma coisa entra na boca. Eles tentam dar a esse complexo de sensações uma independência radical em relação àquele que as sentiu.Tolstoi também descreve atmosferas. As grandes páginas de Faulkner! Os grandes romancistas conseguem chegar a isso. Há um grande romancista americano que quase disse isso. Ele não é muito conhecido na França e gosto muito dele. Thomas Wolfe. Ele descreve o seguinte: "alguém sai de manhã, sente o ar fresco, o cheiro de alguma coisa, de pão torrado etc., um passarinho passa voando..." Há um complexo de sensações. O que acontece quando morre aquele que sentiu tudo isso? Ou quando ele faz outra coisa, o que acontece? Isso me parece a questão da arte. A arte dá uma resposta pra isso: dar uma duração ou uma eternidade a este complexo de sensações que não mais é visto como sentido por alguém ou que será sentido por um personagem de romance, ou seja, um personagem fictício. É isso que vai gerar a ficção. E o que faz um pintor? Ele faz só isso também. Ele dá consistência aos perceptos.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Enquanto isso, no MSN...

A diz:
amor é querer bem é  levar a pessoa p alto juntos...hj só me relaciono com alguem se tive alguma troca
cansei
quero alguem que me faca bem...
sem peso
que seja leve
 
Bárbara diz:
com certeza!
é o que sempre pensamos quando estamos sozinhos
.


né não?

terça-feira, 26 de abril de 2011

di, amor,

eu não morro.


só(bre)vivo.

domingo, 24 de abril de 2011

sensatez E amor

A questão é a seguinte. Nós estávamos juntos há tanto tempo. Acho que nunca permaneci ao lado de alguém durante tanto tempo. A gente brigava muito, é bem verdade. E a gente se amava. Eu sentia muito ciúmes de você. E acusava-lhe de coisas descabidas, segundo você. E eu sempre agi assim em minhas relações e é o meu jeito. Eu era paranóico e te amava. Te dizia isso todos os dias. Te dizia isso enquanto fazíamos amor. Te dizia isso enquanto você dormia. E você também. Você chorava muito quando eu a ofendia afirmando que você sentia tesão pelos meus amigos. E você queria me convencer de que eu era louco e de que deveria confiar em você. E eu confiava. Sempre soube de sua sinceridade, lealdade e até mesmo fidelidade. Fidelidade que você tanto evitava assumir para não parecer submissa ao meu ciúme. Eu sabia que você jamais seria hipócrita, mas quando sentia raiva por alguma coisa, era o mais baixo possível e via as lágrimas escorrerem por seu rosto. Eu sabia que aquilo era o mesmo que dizer-me: amor, já conversamos tanto sobre isso e você insiste em acusações. E eu me indignava comigo mesmo por fazer sofrer uma mulher tão amada. E é o meu jeito. E eu fazia isso com você, primeiro, porque queria te ferir (e conseguia); segundo, porque é o meu jeito, sempre fiz isso, sei lá. E você é muito geniosa. E isso sempre atrapalhou nossa relação. Neurótica e bipolar: já nem aguentava mais chamá-la. E você passou a relação toda afirmando que eu sentia vergonha de você. E você se sentia humilhada por isso. E isso te atormentava. E, de fato, eu sentia sim vergonha de você. E  a gente brigava. E brigava muito. E nos agredíamos com palavras mortais. E sabíamos que estávamos nos matando. Mas a gente se amava. E nos dizíamos isso todos os dias. Apesar de, é bem verdade, às vezes, você dizer que iria terminar a relação. Apesar de ter ido embora de muitos lugares várias vezes por causa de nossas brigas. Eu não gostava disso. Você tinha de permanecer ao meu lado. Suportar a dor da briga, pois nos amávamos. Mas você sempre fugia e eu detestava. Ligava para você com palavras mais rudes ainda. E você não ficava por baixo, pois é "insubmissa". E se orgulha disso. O importante é que, apesar de tudo, nos amávamos muito. Eu te dizia que isso deveria ser suficiente e você dizia que não. E você dizia que o amor deve estar na superfície e não no fundo do coração. E dizia que amor é prática e eu dizia o mesmo. E não praticávamos. E até eu mesmo pensava, por vezes, em terminar. Certo dia, terminamos. Era noite, estávamos numa festa e acho que saí, deixando-a de lado. Você não suporta isso. Aliás, você é muito edipianizada; tem a história de sua mãe na cabeça, não sabe ser rejeitada. Aliás, você mesmo diz ter complexo de rejeição. E isso te deixa neurótica. Como você é neurótica. Então, nessa noite, nessa festa, eu saí. Saí para conversar com meus amigos e não te dei atenção. E, como você é neurótica e não confiava em mim, ficou louca. Achava que eu estava com vergonha de você e paquerando outras mulheres. Mas eu não sou um cretino. Eu sou um cara ético. Mas você saiu andando pela rua, sentou no meio fio e pôs-se a chorar. Como você chora, nega. Eu dizia. E você me agredia. Como você é agressiva. Neurótica. Vamos embora. Chamamos um táxi. E eu detestava quando voltávamos para casa no meio da noite devido às suas neuroses. E isso sempre acontecia. E sempre chegávamos em casa e brigávamos. E nessa noite foi a pior briga. Não lembro como começou. Acho que você pôs-se a dizer que ia embora - como sempre. E eu não aguentava mais você ir embora sempre que brigávamos. E eu não deixei você ir embora. Acho que foi isso. Tranquei a porta e não deixei você sair. Só que você não se submetia a esse tipo de coisa. E eu achei, por um minuto, que você não me aguentava mais. E nós começamos a brigar. Não me lembro bem. Como posso não lembrar bem da nossa pior briga? Sei que brigamos até de manhã e eu não aguentava mais sua neurose. Você tentou se jogar da janela. Eu disse que te mataria. Eu acreditei que te mataria. Você acreditou que se mataria. É tudo mentira. Fui cruel nesse dia. Disse coisas imperdoáveis. Perdoe-me. Mas, nem assim, você se submeteu. Desafiou-me mais e mais. Como você é insubmissa. Em algum momento, fomos dormir. Você tinha de ir trabalhar e foi. Apareci em seu trabalho, mais tarde, com um celular novo para você, pois o seu eu havia jogado na parede mais cedo quando você tentou ligar para polícia. Você ignorou-me. Acho que, assim como eu, você não sabia muito bem o que se passaria dali em diante... E teve uma festa à noite. E você estava linda. E você não me olhou. E você estava alegre. E como você foi cruel. E como você me desprezou. E como tive de sair conversando com os presentes sobre o amor que sentia por você. E como, apesar dos mais de 2 anos de relação, as pessoas admiravam-se por eu dizer que a amava. Você tinha razão: as pessoas não sabiam disso. Eu a escondia, é verdade. Mas a gente se amava. E você é neurótica. E você foi embora, sem me cumprimentar. E, no dia seguinte, domingo, liguei para você o dia todo. E você não me atendeu. E eu me desesperei um pouco. E você parecia estar decidida.E acho que, na segunda, também não nos falamos. E como eu sentia que te amava. Parece que foi na terça quando consegui falar com você. Já tinha mandado umas mil mensagens e, finalmente, a convenci de me encontrar para conversarmos. Fui ao seu encontro. Como eu não queria te perder. Como eu senti, em seus olhos, a vontade de tentar e o medo de mim. Como você se assustou com a minha agressividade na madrugada de sexta. Como eu fui agressivo. Como eu estava triste. E, por mais que eu seja visto, pelo social, como um canalha, a minha vontade de ficar bem, naquele momento, era sincera. A minha vontade de mudar o encontro era sincera. E você acreditava nisso e era por isso que eu te amava. Porque você acreditava em mim. Aliás, você me conhecia e me amava. Você convivia comigo e me amava. Você olhava em meus olhos e me amava. Você estava ligada e me amava. Você sabia e me amava. Você pirava e me amava. Sem conjunções adversativas. E eu não podia te perder. E você cedeu. Porque você também não queria me perder. E a gente queria que fosse diferente. E eu não lembro se foi. Provavelmente não. Eu não lembro o que se passou no intervalo entre esse episódio e a nossa separação total. Só sei que eu senti que estava perdendo-a. E perdi. Eu estava me perdendo. E me perdi. E foi desesperador. Como eu te amava. E eu aprendi que não se deveria tratar mal a quem se ama. E assumi que isto era a grande contradição de meu espírito. E desesperei porque perdi meu amor. Você não podia terminar comigo. Apesar de tudo, nos amávamos. Você dizia que me amava e eu não sabia se acreditava. Eu não aceitava a fuga. A fuga de ambos. A atitude sua. A escolha nossa. E eu te ameaçava. Plantava-me na porta de sua casa e dizia que não sairia de lá. E escrevi um e-mail execrando-a. Execrando seu corpo. Execrando seu gozo. Execrando sua família. Execrando sua inteligência. Execrando-a. E como aquilo te feriu. Soube depois. E eu dizia que aquilo era para acelerar a impossibilidade. E você não cedeu. E você nem me atendia. E você me desprezava. Um dia, não demorou muito, você me atendeu. E disse que eu era um homem extraordinário. E você chorou ao dizer essas palavras. E como eu acreditava em você. E como você é ingênua, meu amor. E como eu te amo. E como você chora agora por escrever isso. Pára de chorar, nega. Mas foi somente essa ligação. E você voltou a evitar-me. E eu andava por aí sorumbático. E os conselheiros surdos tentavam me ajudar. E eu não aceitava. E a calmaria instalada me sufocava. As paredes brancas do quarto me sufocavam. E como você era indiferente á minha dor. E cadê o meu amor? E eu perdi o meu amor dentro de mim mesmo. E não demorou muito para um novo amor surgir. Assim dizia a mensagem que te mandei. E não sei o que você sentiu, mas calou-se. Parece que você tremeu de descrença. Parece que você tremeu de terror. E você estava no Rio de Janeiro. E enquanto eu sofria e pensava em você, em nossa amor, você trepava com outros homens. Disso, eu tinha certeza. E eu, sabido de sua pouca idade, entendia que você precisava conhecer outros caras. E, para mim, nesse momento, esse havia sido o motivo do seu afastamento. E eu havia esquecido de todas as brigas que vivíamos diariamente. E eu ignorei todos os argumentos que você utilizou para separar-se. E eu imaginava que sentia quando você estava fazendo amor com outros homens. O que eu não sabia, na verdade, é que, quando te revelei isso, você não havia feito amor com nenhum homem ainda. E, silenciosamente, você sorriu do outro lado do telefone. Como invento sofrimento. E essa cena me cortava: meu amor em excrementos outros. Mas meu amor já era outro. E eu não conseguia parar de procurá-la. E nem sabia mais porque. Dizia que porque te amava. E eu te ligava para falar de como você era especial. E eu sabia que o era mesmo. Ou pelo menos tinha sido. E você mantinha-se distante. E eu tinha notícias suas na noite. E eu tentava encontrá-la. E eu tinha outro amor. E eu morava com outra pessoa. E eu ligava para você. E eu falava desse outro amor com desprezo. E eu assumia que sua atitude de terminar fora corajosa. E eu reconhecia que fora necessária. E eu te dizia sobre tudo que eu havia aprendido com o nosso encontro. E posterior desencontro. E eu dizia coisas surpreendentes de um modo arrebatador. E você se emocionava com minhas palavras. E você reacreditava na possibilidade de encontro. E você passou a ser mais atenciosa. Passou a tratar-me com mais carinho. E um dia você disse que me amava. Era impossível, depois de tudo, e você me amava. E você disse: sigamos. E você, então, ainda me amava? Você disse que amava! E a gente combinou de não mais ficar se ligando sem assunto para falar, pois concordamos que isso feria os dois. Concordamos que fingíamos tranquilidade e alegria nessas ligações banais que, por vezes, trazia más sensações. E acordamos: fiquemos quietos; sigamos. E segui. E alguns dias depois eu não suportei e a procurei. E você era muito atenciosa. E você era doce. Doce Bárbara. E a gente concordou que deveríamos conversar. E eu estava mais tranquilo. E eu não chorava mais. E eu não engasgava mais. E você estava ansiosa. Como sempre. E trocávamos mensagens de amor. E você estava ansiosa por uma conversa. E a gente se encontrou na rua por acaso. E como você estava bonita. E como você estava solta: do jeito que é. E eu mantive a distância. E você partiu. E, no carnaval, eu vi a sua "cara de sofrimento". Eu vi a sua ansiedade por mim. Eu vi o seu amor por mim. E eu fiquei puto. Ironicamente, puto. E você me procurou depois do carnaval. E eu já estava mais puto. E eu mostrei toda a minha mágoa pelo sofrimento que vivi no passado. E eu dizia que isso não era ressentido. E você chorou de incompreensão. Mas você sabia ser legítimo esse sentimento. É que você quer tudo agora. Mimada. E você me lembrou que fora necessário terminar no momento em que terminamos. E lembrou de tudo que eu já me esquecia. E você chorou muito. E eu não suportava aquele chorou. E eu fiquei de ligar-lhe depois. E eu ligava depois, pois era inevitável. E você continuava em meus pensamentos. E eu estava com outra mulher. E eu nem sei mais de que modo pensava em você. Só sei que eu pensava. E que inconsequentemente te procurava. E você não entendia porque eu resistia a uma conversa. E eu resistia. E você queria me convencer a te amar naquele momento exato. E você queria que eu desligasse o telefone e fosse ficar com você. E você queria de seu jeito, como sempre fora. E eu dizia que te amava. E dizia que você era minha vida. E dizia também que você não era a dona do tempo. E que você segurasse sua onda. E lembrava de todo sofrimento que havia vivido três meses antes. E isso não é ressentimento. E dizia que tinha seguido minha vida. E que você não poderia cobrar-me nada. E chamava-a de "boi fujão". E dizia que te amava. E que teríamos um bom encontro. E que seria maduro. E que tinha de ser maduro. E que não podia mais ser aborrecente. E que era necessário cantar até o amor se esvair. E você ficava puta com a idéia de deixar o amor se esvair. E você é muito obsessiva. Ansiosa. Sempre foi. E eu deveria ter adivinhado que enrolá-la daria em merda. E que você surtaria em algum momento, pois você surta mesmo. E como você é obsessiva além de neurótica, ansiosa, mimada, egoísta e bipolar. E, alguns desses, você admite. E te mandei um e-mail dizendo que minha vida estava punk. E você me ligou convidando para um almoço. E eu disse que não podia. E remarquei para o dia seguinte. E você não tinha paciência. E, no dia seguinte, você bateu na porta de minha casa. E você não sabia que eu morava com uma mulher. E você estava lá. E eu não sabia o que fazer. E você estava louca. E você sempre foi louca. E, posteriormente, eu tive de dizer para a mulher que morava comigo que você estava me perseguindo. E tive de dizer ainda que deveríamos nos mudar. E a mulher ficava puta com você. Porque você não entendia que eu já estava em outra? E você estava puta comigo. E não demorou para que você conhecesse a mulher que morava comigo. E não demorou para ela dizer-lhe para parar de me procurar. E não demorou para você encolerizar-se e dizer pra ela o que se passava. E não demorou pra ela me ligar chamando-me de canalha. E não faltava muito para eu humilhar você, como eu desejava. E eu disse para a mulher que você era louca. E ela deve ter acreditado. E, de manhã, já em casa com a mulher, eu te liguei ofendendo-a do jeito que eu sei que mais lhe dói. E eu chamei-a de otária. E, ainda assim, existia uma doce bárbara ao telefone. E não demorou para você bater em minha porta novamente. Mais bárbara que doce. E você me deu um tapa na cara. Filha da puta. Mas, ao menos, eu disse olhando em seus olhos que gostava da outra. E você não acreditava em meu cinismo. E você é tão ingênua que até disse que eu poderia gostar mesmo. E que ódio senti de você por tantas coisas novamente. E como te amava novamente. E como eu sabia que você estava fudida. Mas eu queria que você se fudesse mesmo. E envolvi, novamente, sua família na história. E a minha também. E, ao falar com sua tia, assumi que te amava. E não assumi que nosso contato se dava por vontade recíproca. E queria sustentar a idéia de que você me perseguia. E eu falei com você pela última vez. E eu disse que te amava ainda e sempre: com essas palavras. E eu disse qual seria a minha vingança àquele tapa. E eu afirmei que nunca mais olharia em seu rosto. E disse que começaria já. E ainda conversei com sua tia. E ela disse que a gente não dava certo. E eu concordei. E ela disse que, diante dos fatos, que eu avisasse-lhe se você me procurasse. E disse que lhe falaria o mesmo. E era o fim de partida. Novamente. Ah, meu travesseiro de areia! E, dois dias depois, você soube que eu cheguei numa festa, às três da manhã, logo que você saiu. E você não sabia o que pensar. E você não queria interpretar. E, no dia seguinte a isso, eu te liguei errado. Aliás, eu te dei um toque. E você (quanto amor!) retornou a ligação. Aí, sim, eu te disse que liguei errado. E você não sabia o que pensar. E você não queria interpretar. Você até achou que eu havia ligado pra me desculpar. E você acordou com a certeza de que eu fizera isso para mostrar a mulher que morava comigo uma ligação sua nas chamadas recebidas. E como você se sentia usada. E você quis me ligar para dizer desaforos. E você não o fez. E como você mudou. E como se tornou paciente. E essa foi a nossa última vez de fato. E sempre nos olhamos, nos olhos, por três segundos quando nos encontramos por acaso. E sempre desviamos o olhar logo em seguida. E eu te vi num restaurante, dia desses, em companhia de uma amiga minha. E você viu o meu olhar de curiosidade em torno disso. E você, de certa forma, alegrou-se por isso. E você entristeceu-se, logo em seguida, por perceber que alguma coisa segue seu curso. E que, de fato, ao desejo nada falta.  E alguns minutos depois, você me vê passando do outro lado da rua sozinho. E você sabia que eu havia brigado com a mulher que mora comigo. E você se alegra com isso. E você sabe que, infelizmente, nada vai mudar por isso. Pelo menos, por enquanto, pensa. E você já está mais relembrada sobre como se dá um bom encontro. E você sabe que agora não seria um bom encontro. Então, heroicamente, você deixa pra lá e vive sua vida. Não é de sua natureza deixar pra lá e você deixa e segue sua vida. E preocupa-se com a brevidade desta e respeita e segue sua vida. Sabendo que tudo agora mesmo pode estar por um segundo, segue sua vida. Acreditando que o amor transformador revolucionário de outrora deveria ser mais forte que um/dois orgulho(s) ferido(s), segue sua vida. Crendo, ingenuamente, na bela história de amor que tanta desgraça poderia se transformar, segue sua vida. Imaginando aquela velha imagem do bigodudo e da careca de mãos dadas na praia deserta, segue sua vida. Sentindo saudades, segue sua vida. Sentindo amadurecimento, segue sua vida. Sentindo o que é, segue sua vida. Sabendo do que não poderia ter sido, segue sua vida. Dizendo sim ao destino, segue sua vida. Amando a completude do desejo, segue sua vida. Sendo mais elegante, segue sua vida. Acreditando na vida, sim, segue sua vida. Alguma coisa é especial, por isso, segue sua vida. Com medo sim, segue sua vida. O cu pisca e não deixa de seguir sua vida. Alguma coisa segue seu curso e isso é a vida. E eu também sigo minha vida.. E, no dia seguinte, chamam-me para uma festa em sua casa. E eu digo que não vou, pois é sua casa. E volta meia falo e penso em você. E eu ainda sinto saudades. E eu ainda te amo ainda e sempre. E eu não te perdôo por ter sido corajosa. E eu não te perdôo por ter sido sensata. E eu pensava que envelheceríamos juntos. E a gente se amava. E você não deveria ter fugido naquele momento: a sensatez no amor é imperdoável. E eu não te perdôo. E, na verdade, eu não te amo mais. Aliás, de onde você tirou essa idéia de me amar ainda e sempre? Você leva as coisas muito a sério, bibita, siga sua vida.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

* Eu gosto

tanto

de você,

que até

dá vontade

de rezar. *