quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

.bomdia.

eu vi hoje, às 5:30h, o céu se transformar de cinza em azul. havia um laranja no meio disso e eu não sabia se estava sonhando. voltei a dormir, sem conseguir visualizar, em meus sonhos, algo de beleza equivalente. mas como medi-las, as belezas?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

hoje
fui acordada
por um céu
insuportavelmente
azul.
simplesmente
azul.

sábado, 23 de janeiro de 2010

[ trecho ] "O Lobo da Estepe"

"Na planície vimos um ancião de aspecto respeitável, de longa barba, e rosto aflito, que conduzia um exército poderoso de uns dez mil homens todos vestidos de preto. Parecia estar confuso e desesperado, e Mozart disse:

- Veja, é Brahms. Aspira à redenção, mas custará muito a alcançá-la.

Soube que aqueles milhares de homens vestidos de preto eram seus cantores e executantes daquelas vozes e notas que, segundo o juízo divino, haviam sido desnecessárias e supérfluas em suas partituras.

- Orquestração demasiado pesada, vasto material desperdiçado - observou Mozart.

Em seguida vimos à frente de um grande exército, igualmente numeroso, Richard Wagner empurrado pela multidão, fatigado, arrastando-se com passos vacilantes.

- Em minha juventude - observei com tristeza - esses dois músicos eram todos como os mais extremos contrastes que se podia conceber.

Mozart sorriu.

- Sim, é sempre assim. Tais contrastes, vistos a pequena distância, sempre tendem a apresentar sua crescente similitude. A instrumentação excessiva não foi, na verdade, uma falha pessoal de Wagner ou de Brahms; era um defeito de sua época.

- Como? E tiveram de pagar tão duramente por isso? - exclamei em tom de protesto.

- Naturalmente. A lei segue seu curso. Depois de pagar a culpa de seu tempo, ver-se-á se a culpa pessoal merece alguma redenção.

- Mas nenhum dos dois tiveram culpa?

- Certamente que não. Não tiveram culpa, como tampouco Adão teve culpa de haver comido a maçã e nem por isso deixou de pagar pelo pecado.

- Mas isso é terrível.

- Sem dúvida, a vida é sempre terrível. Nada podemos fazer em contrário e, não obstante, somos responsáveis. Mal se nasce já se é culpado. O senhor deve ter recebido instrução religiosa muito particular para desconhecer tais dogmas.

Aquilo fora para mim desilusório. Vi-me a mim mesmo arrastando-me pelo deserto do além, como um peregrino morto de cansaço, carregado com os inúmeros livros inúteis que havia escrito, com todos os artigos e opúsculos que havia publicado, seguido de um exército de leitores que se viram obrigados a tragar tudo aquilo. Meu Deus! E além disso, ali estavam também Adão e a maçã e toda a restante culpa hereditária. Tinha de purgar tudo aquilo e só então poder-se-ia levantar a questão se, após tudo aquilo, havia algo pessoal, algo próprio que considerar, ou se todos os meus atos e suas consequências não seriam mais que espumas boiando no mar, ondulação sem sentido na torrente dos acontecimentos."

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Minifestival de Dramaturgia "QUATRO CRAVOS PRA EXU"



PROMOÇÃO!!!

Vá hoje e ganhe um livro com as quatro peças do festival!!!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"Sonhar é destino."



Quais
desgraças
sonhei
ontem
para viver
o que
não
vivo
agora?

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Minifestival de Dramaturgia: "Quatro Cravos Para Exu"





Vídeo promocional do Minifestival de Dramaturgia QUATRO CRAVOS PARA EXU.


O projeto acontece no Teatro Gamboa Nova, sempre de 5ª a sábado, até o dia 27 de fevereiro de 2010.


Confira a programação: www.teatrogamboanova.com.br

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

...

O homem desta convenção, como todos os outros ideais burgueses, é uma conciliação, um intento tímido, de ingênua astúcia com o intuito de engnar tanto à perversa mãe Natureza primitiva quanto o incômodo primitivo pai Espírito de suas enérgicas exigências e para viver na zona temperada entre eles. É por isso que a média das pessoas permite e tolera aquilo que denomina "personalidade", mas ao mesmo tempo entrega a personalidade àquele Moloch chamado "Estado" e intriga continuamente um com o outro. Assim o burguês queima hoje por herege e enforca por criminoso aquele ao qual amanhã levantará estátuas.

[ainda do livro O Lôbo da Estepe]

Sobre o burguês:

O "burguês", como um estado sempre presente da vida humana, não é outra coisa senão a tentativa de uma transigência, a tentativa de um equilibrado meio-têrmo entre os inumeráveis extremos e pares opostos da conduta humana. Tomemos, por exemplo, qualquer dessas dualidades, como o santo e o libertino, e nossa comparação se esclarecerá em seguida. O homem tem a possobilidade de entregar-se por completo ao espiritual, à tentativa de aproximar-se de Deus, ao ideal de santidade. Também tem, por outro lado, a possibilidade de entregar-se inteiramente à vida dos instintos, aos anseios da carne, e dirigir seus esforços no sentido de satisfazer seus prazeres momentâneos. Um dos caminhos conduz à santidade, ao martírio do espírito, à entrega a Deus. O outro caminho conduz à libertinagem, ao martírio da carne, à entrega, à corrupção. O burguês tentará caminhar entre ambos, no meio do caminho. Nunca se entregará nem se abandonará à embriaguez ou ao ascetismo; nunca será mártir nem consentirá em sua destruição, mas, ao contrário, seu ideal não é a entrega, mas a conservação do seu eu, seu esforço não significa nem santidade nem libertinagem, o absoluto lhe é insuportável, quer certamente servir a Deus, mas também entregar-se ao êxtase, quer ser virtuoso, mas quer igualmente passar bem e viver comodamente sobre a terra. Em resumo, tenta plantar-se em meio aos dois extremos, numa zona temperada e vantajosa, sem grandes tempestades ou borrascas, e o consegue ainda que à custa daquela intensidade de vida e de sentimentos que uma existência extremada e sem reservas permite. Viver intensamente só se consegue à custa do eu. Mas o burguês não aprecia nada tanto quanto o seu eu (um eu na verdade rudimentarmente desenvolvido). À custa da intensidade consegue, pois, a subsistência e a segurança; em lugar da posse de Deus cultiva a tranquilidade da consciência; em lugar do prazer, a satisfação; em lugar da liberdade, a comodidade; em lugar dos ardores mortais, uma temperatura agradável. O burguês é, pois, segundo sua natureza, uma criatura de impulsos vitais muito débeis e angustiosos, temerosa de qualquer entrega de si mesma, fácil de governar. Por isso, colocou em lugar do poder a maioria, em lugar da autoridade a lei, em lugar das responsabilidades as eleições.

[trecho de O Lôbo da Estepe]

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Minifestival de Dramaturgia: "Quatro Cravos Para Exu"



(Clique na imagem para vê-la em tamanho grande)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O Lôbo da Estepe (trecho)

"Cada espécie de homens tem suas características, seus aspectos, seus vícios e virtudes e seus pecados mortais. Um dos signos do Lôbo da Estepe era o de ser um noctívago. A manhã era para ele a pior parte do dia, causava-lhe temor e nunca lhe trouxera nada de bom. Nunca fôra alegre em qualquer manhã de sua vida, nunca fizera nada de bom na primeira metade do dia, não tivera boas idéias, nem divisara nenhuma alegria para ele ou para os demais. Ao começar a tarde, ia reagindo lentamente, principiava a se animar e, ao cair da noite, em seus melhores dias, tornava-se frutífero, ativo e, às vezes, até brilhante e alegre. Disso, decorria sua necessidade de isolamento e de independência. Nunca existira um homem com tão profunda e apaixonada necessidade de independência como ele. Em sua juventude, quando ainda era pobre e tinha dificuldades em ganhar a vida, preferia passar fome e andar mal vestido a sacrificar uma parcela de sua independência. Nunca se vendera por dinheiro ou vida fácil às mulheres ou aos poderosos, e mil vezes desprezara o que aos olhos do mundo representa vantagens e regalias, a fim de salvaguardar a sua liberdade. Nenhuma idéia lhe era mais odiosa e terrível do que a de exercer um cargo, submeter-se a horários, obedecer ordens. Um escritório, uma repartição, uma sala de audiência eram-lhe tão odiosos quanto a morte, e o que de mais espantoso podia imaginar em sonhos seria o confinamento num quartel. Sabia subtrair-se a todas essas coisas, a custo de grandes sacrifícios e nisso residia sua força e virtude, nisso era inflexível e incorruptível, nisso seu caráter era firme e retilíneo. Só que a essa virtude estavam intimamente ligados seu sofrimento e seu destino. Ocorria a ele o que se dá com todos: o que buscava e desejava com um impulso íntimo de seu ser, acabava por ser-lhe concedido, mas em grau demasiadamente superior ao que convém a um homem. A princípio, o que obtinha parecia-lhe um sonho e uma satisfação, mas logo se revelava como sendo o seu amargo destino. Assim, o poderoso era arruinado pelo poder, o rico pelo dinheiro, o subserviente pela submissão, o luxurioso pela luxúria. O Lôbo da Estepe perecia pela sua própria independência. Havia alcançado sua meta, seria sempre indenpendente, ninguém haveria de mandar nele, jamais faria algo para ser agrdável aos outros. Só e livre, decidia sobre seus atos e omissões. Pois todo homem forte alcança indefectivelmente o que um verdadeiro impulso lhe ordena buscar. Mas em meio à liberdade alcançada, Harry compreendia de súbito que essa liberdade era a morte, que estava só, que o mundo o deixara em paz de uma inquietante maneira, que ninguém mais se importava com ele, nem ele próprio, e que se afogava aos poucos numa atmosfera cada vez mais tênue de falta de relações e de isolamento. Havia chegado ao momento em que a solidão e a independência já não eram seu objetivo e seu anseio, mas antes sua condenação e sua sentença. O maravilhoso desejo fôra realizado e já não era possível voltr atrás e de nada valia agora abrir os braços cheio de boa-vontade e nostalgia, disposto à fraternidade e à vida social. Tinham-no agora deixado só. Não que fosse motivo de ódio e de repugnância. Pelo contrário, tinha muitos amigos. Um grande número de pessoas o apreciava. Mas tudo não passava de simpatia e cordialidade; recebia convites, presentes, cartas gentis, mas ninguém vinha té ele, ninguém estava disposto nem era capaz de compartilhar de sua vida. Agora rodeava-o a atmosfera do solitário, uma atmosfera serena da qual fugia o mundo em seu redor, deixando-o incapaz de relacionar-se, uma atmosfera contra a qual não podia prevalecer nem a vontade nem o ardente desejo. Esta era uma das características mais significativas de sua vida."




Hermann Hesse

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Minifestival de Dramaturgia: "Quatro Cravos Para Exu"


(Clique na imagem para vê-la em tamanho grande)

Onde? Teatro Gamboa Nova

Quando? de 08 de Janeiro a 27 de Fevereiro

Horários? 19h (Meninas de Short e Sem Rosto e Cipriano) e 20:30h (Alfazema e Suor e Pensando Bem...)

Valor? R$5,00

Informações? (71) 3329 - 2418