segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

teatro e vanguarda - O QUE É TEATRO ÉPICO? Um estudo sobre Brecht

Bertolt Brecht



(trechos)



"esse abismo que de entre todos os elementos do palco é o mais profundamente marcado pela sua origem sagrada, já não tem hoje razão de existir."


"Para o público do teatro épico, o palco não se apresenta como as 'as tábuas que dão sentido ao mundo' (portanto como um local de fascinação) mas sim como um lugar concebido com o fim de expor problemas. Para o palco, o público já não é uma massa de indivíduos hipnotizados, mas uma assembléia de pessoas interessadas, cujas exigências ele deve satisfazer. Para o texto, a representação não significa virtuosismo da interpretação, mas domínio rigoroso. Para a representação, o texto já não é um fundamento mas sim um sistema de coordenadas, no qual se inscreverão como novas aquisições, os resultados obtidos ao longo dos ensaios. Aos atores, o encenador não dá já indicações tendentes a obter um efeito determinado, mas teses que implicam, por parte daqueles, uma tomada de posição. Para o encenador, o ator não é já um <> cuja função é assumir um determinado papel, mas um trabalhador encarregado de fazer o inventário do papel que desempenha."


"o gesto é o material do teatro épico; a sua missão é a utilização adequada deste material."


"o teatro épico tem uma consciência permanentemente viva e produtiva de que é teatro."


"O teatro épico dirige-se a pessoas interessadas que 'não pensam sem razão', mas esta atitude deve ser totalmente partilhada com as massas."


"O materialismo dialético de Brecht transparece sem equívoco no esforço de interessar as massas pelo teatro de uma forma inteligente e nunca através da 'cultura'.


"Conseguiremos assim muito em breve criar um interesse pelo teatro semelhante ao que existe pelas competições desportivas."


"As formas do teatro épico correspondem às novas formas técnicas, ao cinema e à rádio."


"no 'teatro para fumadores' que Brecht projetou, os 'fregueses' são os proletários."


--> Brecht pergunta-se "se os acontecimentos que o ator épico representa não deveriam ser já conhecidos. 'Os fatos históricos seriam então os mais apropriados'. No entanto, também neste caso seria preciso tomar algumas liberdades com o curso da História; por exemplo, não são as grandes decisões históricas, que afinal pertencem ao domínio das coisas esperadas, que devem sublinhar-se, mas sim o que na sua trivialidade é incomensurável, particular."


"Brecht permite que as contradições da existência penetrem no único lugar onde afinal podem ser superadas - no próprio homem."


"Um homem é um homem; isto não significa fidelidade ao seu próprio ser, mas disponibilidade e abertura para a transformação de si próprio.

Não enuncies o teu nome com tanta precisão; para

quê,

se mesmo assim te referes sempre

a outra pessoa?

E para quê gritares tão alto a tua opinião? Esquece-a

Qual era a que tinhas há pouco?

Lembra-te das coisas apenas

enquanto elas duram."


"Quando em Berlim alguém perguntou ao encenador russo Meyerhold qual a diferença que ele encontrava entre os seus atores e os da Europa Ocidental, respondeu: 'Existem duas diferenças fundamentais: primeiro sabem pensar; segundo o seu pensamento é materialista e não idealista'. Considerar o palco como uma instituição moral só é justificável dentro da perspectiva de um teatro que não só forneça como produza esquemas ideológicos."


"Naturalmente, ele [o ator] representa mostrando-se e mostra-se representando-se."


"o palco romântico nunca conseguiu ter consciência da relação dialética essencial, da relação entre a teoria e a prática; contudo iniciou-se nessa via, mas, de forma tão vã como o faz hoje o teatro tradicional."


"O 'estado de coisas' que o teatro épico põe a nu, é a dialética na imobilidade."



WALTER BENJAMIM


(Extraído de Essais sur Bertold Brecht.)

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