segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

teatro e vanguarda - PARA UM TEATRO POBRE

Jerzy Grotowski


(trechos)
"Queremos antes de mais, libertarmo-nos do ecletismo. Não acreditamos que o teatro seja uma amálgama de diversas disciplinas artísticas."
"naquilo que consideramos a essência do teatro enquanto arte - isto é, na relação entre o ator e o espectador, e entre a técnica espiritual do ator e a composição das diferentes partes da interpretação."
"Foi Stanislavski o primeiro a levantar problemas importantes relativamente ao método."
"não tentar ensinar ao ator uma receita qualquer e nem sequer o ajudarmos a construir um 'arsenal de meios'."
"Tudo se centra e se concentra em torno do domínio interior do ator."
"o ator ao interpretar deve fazer uma entrega total de si mesmo."
"O nosso trabalho cotidiano não consiste em elaborar uma técnica espiritual, mas, pelo menos de início, em compor um papel construir formas, interpretações, sinais: em suma, treinam-se para conhecer aquilo a que voluntariamente chamam 'artificialidade'."
"pensamos que um processo psíquico que não esteja baseado na disciplina, na articulação do papel e numa estruturação adequada, não se traduz numa libertação, mas deve ser compreendido como uma forma pura e simples de caos biológico."
"Levado pelo entusiasmo, (o homem) começa a fazer gestos, a dançar, a cantar e a articular ritmicamente; é o signo, e não o gesto habitual, que para nós constitui a exceção elementar."
"nem sempre estou em condições de dominar intelectualmente as minhas próprias realizações."
"a auto-análise dos meus espetáculos revelou-me que eles não são o resultado de uma teoria solidamente construída, mas que a minha consciência artística acompanha as minhas realizações, explicitando-as uma vez consumadas."
"o teatro, privado de todos esses truques e acessórios, não deixa por isso de existir. Deixa de existir apenas quando se corta a comunicação entre o ator e o espectador, quando desapareceu o diálogo direto, palpável e vivo."
"Encarar o teatro como uma síntese das artes leva-me a confirmar que atualmente reina na cena algo a que com muito gosto chamaria 'riqueza'; no entanto esta é a confirmação das suas fraquezas."
"O que é o teatro 'rico'? Um teatro parasita, uma realização de cleptomania artística."
"O teatro 'rico', acumulando umas sobre as outras formas que não lhe pertencem, procura sair do beco sem saída em que o cinema e a televisão o meteram."
"Seja qual for a via que os encenadores sigam para aperfeiçoamento destas possibilidades técnicas, o teatro estará sempre em desvantagem em relação ao cinema e à televisão. É por isso que propomos um teatro 'pobre'."
"Renunciamos aos trajos, aos narizes postiços, às barrigas falsas, isto é, a tudo aquilo que o ator prepara antes de entrar em cena. E constatamos que o que é teatral, mágico, fascinante, é a capacidade que o ator tem para se transformar em tipos e caracteres diferentes, e tudo isto 'pobremente', quer dizer, apenas pelo seu trabalho."
"Aprendemos que o espetáculo só se transforma em verdadeiro espetáculo musical desde que se suprima do teatro qualquer espécie de música mecânica ou interpretada por uma orquestra independentemente dos atores."
"o próprio texto não pertence ao campo do teatro e é introduzido em cenas apenas graças ao ator, em virtude das entoações, associações de sons, em suma, em virtude da musicalidade da linguagem."
"O teatro deve violar os esteriótipos da nossa visão do mundo, os sentimentos convencionais, os esquemas de pensamento; deve violar brutalmente esses esteriótipos enquanto estiverem inculcados no organismo humano (no corpo, na respiração, nas reações interiores); deve portanto violar determinados tabus."
"Não se trata já de formar um ator mas sim de sair de si próprio para realizar a verdadeira descoberta dos outros. O trabalho do ator pode assemelhar-se a um segundo nascimento."
JERZY GROTOWSKI
(Extraído da revista Primer Acto, n. 95).

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